Pequenas doses de exercício protegem contra a depressão
Publicado por Scio Education

 

Uma hora por semana de exercícios físicos de baixa intensidade é tudo o que você precisa para prevenir a depressão, sugere um grande estudo de coorte feito em uma população de adultos saudáveis.

“Ser ativo faz bem para você – mesmo que seja em doses pequenas. Feito regularmente, o exercício é bom para sua saúde, e provavelmente evitará problemas mentais”, diz o autor do estudo, o doutor Matthew Hotopf, diretor do South London and Maudsley NHS Foundation Trust National Institute,  do Health Research  and Biomedical Research Center do Kings College de Londres, Inglaterra.

“Então, se os médicos tiverem um paciente com histórico de depressão, este conselho, provavelmente, é particularmente importante: fazer pequenas e regulares doses de exercícios agradáveis. Os pacientes não precisam correr uma maratona”, acrescentou Hotopf.

O estudo foi publicado on-line em 3 de outubro de 2017 no American Journal of Psychiatry.

 

Não há benefício adicional em sessões de exercício mais longas

O estudo HUNT (Estudo de Saúde do condado de Nord-Trøndelag) é uma dos maiores e mais abrangentes pesquisas de saúde baseados na população já realizados.
A fase 1 do estudo foi realizada entre janeiro de 1984 e fevereiro de 1986. Todas as pessoas com mais de 20 anos que vivem no condado norueguês de Nord-Trøndelag County foram convidadas a responder a perguntas sobre seu estilo de vida e histórico médico. Elas também foram submetidas a um exame físico.

Um total de 74.599 pessoas responderam à pesquisa. Todos os participantes foram seguidos por um período de 9 a 13 anos durante a fase 2 do estudo.

“No momento da avaliação de base (HUNT 1), todos os participantes foram questionados sobre a frequência com que faziam exercícios físicos (como andar ou nadar)”, escreveram os pesquisadores.

 

Os pesquisadores classificaram a intensidade do exercício com base nos dados fornecidos – se os participantes se exercitaram sem perder o fôlego ou suar; se o exercício resultou em falta de ar e suor; ou se o exercício causou exaustão completa.

Um total de 22.564 indivíduos foram avaliados com sucesso durante a fase 2 do estudo HUNT. Os autores enfatizaram que esta era uma coorte de indivíduos muito saudável no início do estudo. Os participantes mais jovens e as mulheres foram significativamente mais propensos a serem submetidos à avaliação de acompanhamento.

“Após o ajuste de uma série de fatores de confusão, aqueles que relataram sedentarismo na avaliação de base tiveram um aumento de 44% de chance de desenvolvimento de depressão em comparação com aqueles que estavam se exercitando 1-2 horas por semana”, dizem os pesquisadores.

Os autores também encontraram uma relação negativa significativa entre a quantidade total de exercício realizado na avaliação de base e o risco de desenvolver uma depressão futura (P = 0,001).
Eles também determinaram que, se todos tivessem se exercitado pelo menos uma hora por semana, 12% dos casos de depressão identificados no futuro poderiam ter sido prevenidos.

O mesmo não era verdade para a ansiedade, cuja prevalência era semelhante nos anos seguintes, independentemente do nível de exercício inicial.

O Dr. Hotopf e seus colegas também encontraram uma associação protetora significativa entre os níveis basais de exercício e a depressão futura para pessoas com menos de 50 anos (P = 0,04) e também para aqueles com idade superior a 50 anos (P = 0,03).

“A maior parte do efeito protetor é obtida com níveis relativamente baixos de exercício, sem indicação de nenhum benefício adicional para sessões além de uma hora de exercício por semana”, observam os pesquisadores.

“O efeito protetor foi observado igualmente em todos os grupos, independentemente da intensidade do exercício realizado, do gênero ou da idade dos participantes”, acrescentam os cientistas.

“Os resultados deste estudo indicam que aumentos relativamente modestos na quantidade total de tempo de exercício por semana são capazes de prevenir um número substancial de novos casos de depressão”, concluem os médicos.

 

Descobertas confirmatórias

Ao comentar essas descobertas, o doutor Mats Hallgren, pesquisador do Instituto Karolinska, em Estocolmo, Suécia, disse que um estudo realizado no tratamento de depressão leve a moderada produziu achados semelhantes.

O estudo sueco envolveu 946 pacientes com depressão leve a moderada submetidos a ioga ou alongamento, exercícios aeróbicos moderados ou práticas aeróbias vigorosas. Os pacientes foram encorajados a participar de três sessões de exercícios por semana, mas a maioria apenas frequentou apenas uma por semana, afirmou Hallgren.

Passadas 12 semanas, Hallgren e seus colegas descobriram que a gravidade da depressão foi significativamente menor entre os pacientes que participaram de qualquer uma das intervenções de exercício em comparação com aqueles que receberam somente os cuidados habituais; os benefícios do exercício foram percebidos independentemente quão intensa era a atividade física.

Além disso, os benefícios do exercício sobre a depressão foram mantidos 12 meses após a avaliação de base, apesar da aderência sub-ótima.

“Penso que não devemos recomendar exercícios apenas uma vez por semana, porque as pessoas precisam exercitar mais de uma vez por semana para manter a saúde geral, então, por isso, devemos recomendar que as pessoas se exercitem três vezes por semana”, afirmou Hallgren.

“Mas mesmo que elas se exercitem apenas uma vez por semana, o exercício ainda pode ter efeitos benéficos sobre a depressão”, acrescentou o pesquisador.

“O exercício é um remédio para a depressão, mesmo quando a “pílula” é pequena”, diz Hallgren.

 

Artigo original disponível em Medscape.