Entendendo a tal da Crise Existencial
Publicado por Scio Education

Desde muito cedo, o ser humano é movido pela curiosidade. A criança que repete as mesmas ações, jogando alguma coisa no chão, só para descobrir como funciona a física desse mundo em que ela mal chegou. E, quando um adulto busca o objeto no chão, não importa quantas vezes ela tenha atirado, a criança descobre como funciona essa relação de dependência, de ação e reação.

Essa dinâmica dita o ritmo da nossa vida. Mesmo que de maneira acanhada, o pensamento questionador nos acompanha por todas as nossas fases de desenvolvimento. Ao menos, deveria.

Ele pode ficar adormecido por um tempo, soterrado por uma avalanche de descobertas e normas pré-estabelecidas que nos são impostas, como um preço a ser pago pelo desejo de integrar a sociedade.

No entanto, em algum momento, alguns desses sentimentos adormecidos podem vir à tona e é aí que somos apresentados à famigerada Crise Existencial.

Crise existencial

A crise existencial é quando o indivíduo deixa o questionamento tomar as rédeas e passa a se perguntar sobre qual o verdadeiro propósito, valor e sentido da vida.

Esse conflito pessoal dá espaço para uma fase de profunda reflexão e, apesar de poder surgir a qualquer momento, geralmente é provocada por um evento importante na vida ou em fechamentos de ciclos pessoais do indivíduo, como:

  • trauma psicológico,
  • casamento, divórcio,
  • grande perda,
  • a morte de um amado,
  • uma experiência entre a vida e a morte,
  • um novo parceiro amoroso,
  • uso de droga psicoativa,
  • filhos adultos saindo de casa
  • atingindo uma idade pessoalmente importante.

Neste último caso, ela também pode ser reconhecida como a Crise da Meia-idade.

Crise de meia-idade

De certa forma, esse é um tema bastante explorado na cultura popular, com uma abordagem geralmente satírica e voltada para retratar o homem ou a mulher tendo que lidar com as inseguranças de perceber que já passaram pelo período da juventude.

Em alguns casos, principalmente em filmes e séries, a crise fica ainda mais evidenciada quando o indivíduo decide mudar completamente sua vida, seja fazendo gastos exagerados com aquisições fúteis, abandonando o emprego, pintando o cabelo ou terminando o casamento.

De qualquer modo, a crise da meia-idade se origina na mesma fonte da crise existencial, o questionamento. Só que neste caso, a crise apenas aparece como o produto de um acúmulo de estresse e cobranças ao longo de anos, geralmente inseridos em um projeto pessoal de casamento, sucesso profissional ou comodismo.

Quando tudo isso é associado às expectativas concentradas sobre uma única pessoa – leia-se o(a) ‘provedor(a) da casa – essa pressão pode levar inclusive a um desgaste mental profundo (burnout).

Sintomas da Crise Existencial

Por ser um momento de reflexão interna, de um olhar consciente para dentro de si mesmo, a crise existencial pode trazer um profundo amadurecimento moral e emocional, transcendendo para um crescimento pessoal valiosíssimo.

No entanto, se não tratada de maneira correta, essa vulnerabilidade e exposição podem levar a um período de sofrimento, marcado por transtornos, fobias e depressão.

Uma crise existencial pode tanto resultar de, como ser confundida com, ou ocorrer junto de uma série de sintomas, como: depressão, privação do sono, realização da complexidade do universo, etc.

Contudo, de acordo com os psicólogos, existem cinco principais sintomas que caracterizam a maioria delas.

  • Ansiedade e cansaço mental
  • Isolamento prolongado
  • Pessimismo e desânimo
  • O sentimento de estar sozinho e perdido no mundo
  • Alterações de apetite

Maneiras de lidar com a crise

Para muitos, a crise existencial é uma consequência direta da depressão. Essa corrente de pensamento é a base para diversos estudos, como no caso do filósofo norueguês Peter Wessel Zapffe, adepto do niilismo.

Segundo sugere Zapffe em seu ensaio, O Último Messias, há quatro formas de lidar com uma crise:

  • Isolamento; adotar a rejeição da consciência de todos os pensamentos e sentimentos perturbadores e destrutivos.
  • Ancoragem; criação de um valor ou um ideal que lhes permite concentrar suas atenções de maneira consistente (Deus, a Igreja, o Estado, a moralidade, o destino, as leis da vida, o povo, o futuro) são alguns exemplos.
  • Distração; concentrar toda a energia em uma tarefa ou ideia para impedir que a mente se feche em si mesma.
  • Sublimação; redirecionar a energia de pontos negativos para os positivos. Comum entre artistas, cria-se um distanciamento afim de olhar para sua existência a partir de um ponto de vista estético (por exemplo, escritores, poetas, pintores).

Crise Existencial e Saúde Mental

Diante dessa fase, alguns profissionais aconselham a tentativa de distrair a sua mente das ideias pessimistas, ocupando a cabeça com atividades produtivas, relaxantes e que livrem do peso da angústia desta crise.

Outro modo de lidar com isso é deixar o pensamento questionador correr solto, livre para tentar entender qual a fonte desses sentimentos, contanto que perceba que esteja em um ambiente de segurança mental e emocional.

Por isso, atenção. Caso você sinta que por mais que se esforce em entender os motivos da sua introspecção, os sintomas não passem ou que você simplesmente não consegue lidar com isso sozinho, então procure a ajuda de um profissional.

Às vezes só com a ajuda de um psicólogo é que podemos realmente entender os motivos da introspecção e, assim, transitar por esse período de maneira segura e produtiva.