O impacto da tecnologia no sono das crianças
Publicado por Scio Education

Resumo

As crianças compõem um dos maiores grupos de consumidores de tecnologia. Um estudo recente do Massachusetts Aggression Reduction Center descobriu que, na quinta série, 40% das crianças têm telefones celulares. Os pais relataram que a finalidade de um telefone nessa idade é por motivos de segurança ou para manter contato com a família, mas muitos pais dão aos filhos um telefone para manter contato com amigos da escola. 

O recente surgimento de brinquedos eletrônicos e tablets para crianças oferece novas oportunidades de aprendizagem, mas também pode ter consequências inesperadas no desenvolvimento motor, atividade, atenção e sono. Algumas dessas implicações para a saúde podem não se manifestar até o final da adolescência ou na idade adulta. De fato, vários estudos identificaram repercussões na saúde associadas ao aumento do uso de tecnologia em adolescentes em idade universitária, incluindo diminuição da qualidade do sono, aumento da desatenção e aumento do índice de massa corporal (IMC). 

Uma revisão sistemática de 36 estudos investigando o uso de tecnologia em crianças propôs mecanismos pelos quais o uso eletrônico antes de dormir poderia causar distúrbios do sono. Os autores sugeriram que o uso eletrônico pode deslocar o sono, já que não há tempo de início ou fim fixo para uso eletrônico. Segundo, o uso da mídia antes de dormir demonstrou aumentar a excitação fisiológica, emocional ou mental. Isso foi estabelecido em estudos de videogame e telefone celular. Terceiro, as emissões de luz das telas de mídia eletrônica podem afetar o sono. 

Numerosos estudos estabeleceram que o sono ruim está associado a problemas comportamentais e emocionais na infância e adolescência. A má qualidade do sono é altamente prevalente em crianças com problemas comportamentais ou emocionais, como ansiedade, depressão ou transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH). 

Discussão 

Estudos sugerem que o aumento do uso eletrônico em crianças poderia ter impactos prejudiciais no desenvolvimento, mas essa precaução não foi seguida por fortes recomendações de mudança. Uma sugestão feita por Olson e colegas (apud FULLER et al, 2017) inclui colocar a “estação de carregamento” (as tomadas) para o telefone ou aparelhos eletrônicos longe da mesa de cabeceira para desencorajar o uso na hora de dormir. Segundo Fuller et al (2017), muito de nossa própria sociedade está se tornando dependente de tecnologia, é difícil proteger as crianças de seu impacto. 

A Academia Americana de Pediatria (AAP) divulgou recentemente uma nova recomendação para aconselhar as famílias sobre o uso da mídia. Sua recomendação é que a mídia seja “apenas outro ambiente” ao qual as crianças são expostas, e isso pode ter efeitos positivos e negativos. Eles lembram aos pais que a paternidade em si não mudou e incentivam os pais a não apenas brincar com seus filhos e se envolver em sua realidade virtual, mas também estabelecer limites em suas horas de exposição. 

Este estudo também mostra uma associação estatisticamente significativa de telefone celular, videogame e uso do computador na hora de dormir e a probabilidade de os participantes estarem cansados pela manhã. Todos os 4 tipos de tecnologia usados na hora de dormir também reduzem significativamente a probabilidade de acordarem para tomar o café da manhã, sendo um fator de risco para o aumento do IMC. 

Além do mais, esta pesquisa descobriu que as crianças que usaram uma forma de tecnologia na hora de dormir eram mais propensas a usar outras formas de tecnologia na hora de dormir também.         

Conclusão 

Os resultados deste presente estudo solidificam alguns dados bem estabelecidos sobre a obesidade infantil – ou seja, que as crianças que assistem mais televisão têm maior probabilidade de apresentar IMC com sobrepeso ou obesidade. Este estudo mostrou que um impacto estatisticamente significante do uso da televisão e / ou do celular na hora de dormir está associado ao IMC elevado em crianças e adolescentes. Os resultados da pesquisa destacam algumas associações entre o aumento do uso de tecnologia e a dificuldade com a quantidade de sono em crianças e adolescentes. Os dados sugerem que o aumento do uso de tecnologia na hora de dormir, a saber, televisão, telefones celulares, videogames e computadores, está associado a uma diminuição na quantidade de sono que as crianças estão recebendo. Essas crianças estavam mais propensas a estar cansadas pela manhã e menos propensas a tomar o café da manhã, que são fatores de risco para o IMC elevado. 

Em conjunto, os dados sugerem uma conexão entre o aumento do uso da tecnologia na hora de dormir com a diminuição da quantidade e qualidade do sono. Juntamente com todos os benefícios da tecnologia, no entanto, vêm as repercussões. Fuller et al (2017) propõe que é importante estar ciente de como esta nova era da tecnologia pode influenciar as gerações vindouras, para que se possa estar preparado para oferecer recomendações para evitar os efeitos nocivos da superexposição. 


Fonte:
“Bedtime Use of Technology and Associated Sleep Problems in Children” – FULLER, C., et al. (2017) – Global Pediatric Health