Os níveis de cortisol presentes no cabelo de crianças podem revelar riscos à saúde mental no futuro
Publicado por Scio Education

Por The Guardian

 

Pesquisadores australianos descobriram que quanto maior o número de eventos traumáticos que uma criança enfrentou, mais altas são as concentrações de cortisol no seu cabelo.

Amostras de cabelos podem ajudar a determinar o risco que uma criança tem de desenvolver doenças mentais e crônicas no futuro, de acordo com descobertas de uma pesquisa conduzida pela Universidade de Melbourne.

Pesquisadores testaram o nível de cortisol no cabelo de setenta crianças com nove anos de idade, nas escolas de nível primário ao redor de Victoria. Cortisol é conhecido como o “hormônio do estresse” porque, a fim de ajudar o corpo a reagir e a se aliviar, ele é liberado em resposta ao estresse intenso.

Os pesquisadores descobriram que, quanto maior o número de eventos traumáticos que uma criança experimentou, tais como o divórcio dos pais, lesões corporais, mudança de lar, doença grave ou a perda de um ente querido, maiores eram as concentrações de cortisol.

Isso sugere que os níveis de cortisol podem representar um marco de exposição traumática e identificar quem corre o risco de desenvolver problemas comportamentais e psicossociais, e quem necessita de ajuda psicológica e médica. Isso conforme a explicação dada pelo chefe do estudo e membro da divisão de saúde mental em crianças e adolescentes da Universidade de Melbourne, Dr. Julian Simmons.

 

“A infância é um período sensível e definitivo de desenvolvimento, e quando as coisas dão errado pode ter consequências pela vida inteira, não apenas na saúde mental, mas também na saúde generalizada.” disse Simmons, que complementa: “O que é usualmente menos entendido é que além da saúde mental fraca, pode também estar associado com o desenvolvimento de outras doenças como diabetes, obesidade e questões relacionadas ao colesterol, porque o cortisol é crucial para a disponibilidade de glicose, pressão sanguínea e as funções de imunidade, sendo assim, identificar estas crianças é importante”.

 

Enquanto os testes de sangue ou de saliva poderiam ser utilizados para detectar os níveis de cortisol, estes métodos eram algumas vezes problemáticos, especialmente nas crianças, informou Simmons. Os níveis de cortisol oscilam durante o dia, significando que os resultados não eram sempre precisos, e somente mostravam os níveis de cortisol num momento específico.

Os testes podiam também ser desagradáveis e invasivos para as crianças, pois os testes sanguíneos requerem agulha e os de saliva, jejum programado.

“Entretanto, amostras de cabelo não são fáceis de obter, mas nos dão um quadro do total de cortisol dentro do sistema, ao longo de muitos meses ao contrário de um momento específico”, disse Simmons. “Observar o cabelo nos dá novas pistas”.

A pesquisa é parte do estudo em andamento do Instituto de Pesquisa da Infância e Adolescência de Murdoch, observando uma amostra de 1.200 crianças de Melbourne e região, e foi publicado no jornal Psychoneuroendocrinology.

Simmons disse que os resultados não significam que todas as crianças com níveis de cortisol elevados passariam a desenvolver problemas comportamentais ou mentais, com muitos outros fatores genéticos, ambientais e sociais, também envolvidos.

Mas o pesquisador revelou que era importante, posteriormente, estudar hormônios e o sistema endócrino do corpo, e como eles se relacionam com as doenças mentais como a ansiedade e depressão.

 

“Esperamos que isso possa ser utilizado como uma das ferramentas a fim de identificar crianças com risco”, disse.

Artigo original disponível em: https://www.theguardian.com/society/2016/jan/07/cortisol-levels-in-childrens-hair-may-reveal-future-mental-health-risk