As consequências da violência infantil
Publicado por Scio Education

O cérebro humano é algo incrivelmente complexo. A sua formação organizacional e funcional depende de uma série de experiências sequenciais, relacionadas ao nosso desenvolvimento e ambientadas no mundo que integramos.

Infelizmente, essa sofisticada arquitetura, calculada nos mínimos detalhes, torna-se extremamente sensível a qualquer interferência externa, principalmente se tratando de episódios não-convencionais, como padrões repetitivos de estresse.

Durante os períodos de desenvolvimento do cérebro infantil, os efeitos do estresse tornam-se ainda piores, afetando o sistema de regulação neural e trazendo consequências profundas e duradouras no comportamento de um indivíduo.

A importante interação entre estresse e desenvolvimento

Os padrões de estresse podem surgir de diversas maneiras mas, com certeza, o abuso de violência, tanto física quanto psicológica, ajuda a aumentar esses níveis.

Essas alterações repetitivas influenciam na redução da atividade neural e podem trazer graves consequências para a estrutura cognitiva da criança, levando à alterações de humor ou dificuldades de socialização, por exemplo.

Além disso, o estresse pode interferir no desenvolvimento do hipocampo, a área do cérebro responsável por cultivar novos neurônios na fase adulta, impactando diretamente nossa capacidade de aprendizado e memória.

Impacto da violência infantil

Inúmeros estudos revelam que o estresse prematuro, como ser vitima de abuso ou presenciar violência doméstica, também pode resultar em:

Comportamentos prejudiciais à saúde (Abuso de substâncias tóxicas e Tendências suicidas)

Distúrbios psicológicos (Transtorno depressivo, Transtorno de ansiedade, Transtorno alimentar e Transtorno de estresse pós-traumático).

Dores e Inabilidades (Síndrome de dor crônica, Dores de cabeça, Fibromialgia, Síndrome de cansaço crônico e Síndrome do intestino irritável)

Violência psicológica também é prejudicial

Um estudo examinou as consequências do abuso infantil por parte dos responsáveis (tanto pais quanto mães), levando em consideração como cada tipo de violência – seja ela de natureza física, psicológica ou ambas – influenciam na saúde mental dos filhos.

Por parte do abuso materno, as consequências podem ser vistas mais constantemente em associações de emoções negativas e problemas com a auto-estima da criança. Já pelo lado do pai, as formas de violência, psicológica ou física, se manifestam em uma queda na qualidade da saúde mental adulta.

Sendo assim, os resultados demonstram que episódios frequentes de violência psicológica, mesmo na ausência de violência física, repercutem de forma negativa, e a longo prazo, na saúde mental das vítimas.

Cenário atual

Embora as pesquisas recentes apresentem fortes evidências, ainda há muito a se realizar nesta área. A maioria dos estudos continua focada em abusos sexuais em sujeitos femininos – apesar do abuso da violência física ser muito mais comum que o abuso sexual e ocorrer tanto em garotos quanto garotas.

Mesmo sendo informativos, os resultados são obtidos com pequenas amostras, o que os tornam relevantes, mas não oferecem respaldo suficiente para traduzi-los em uma escala maior.

O papel das instituições

A influência do abuso e violência durante a infância tem surtido efeitos negativos para a saúde mental e física das vítimas, mesmo décadas após o ocorrido. Esses efeitos podem ser atenuados por fatores como idade, sexo e histórico familiar, mas não são completamente eliminados.

Em uma população constituída em sua maioria por homens e mulheres de meia-idade, transitando na faixa etária mais propensa a demonstrar esses sintomas, é de se admirar que apesar de receber reconhecimento, esse problema ainda é pouco evidenciado, tanto em estudos quanto em práticas médicas.

Recomenda-se, portanto, que as futuras pesquisas direcionem o esforço em examinar potenciais mecanismos que liguem a violência infantil a outras áreas que afetem a saúde adulta. Esse já é o caso de alguns exames clínicos que apontam evidências da relação entre o abuso infantil e comportamentos prejudiciais como fumar, beber, praticar atividades sexuais de alto risco e obesidade.

Conclusão

Se a chave para reduzir o impacto de doenças modernas pode estar na maneira como criamos nossas crianças, fica cada vez mais evidente o papel da educação na sociedade e a importância de uma infância saudável, a fim de garantir novas gerações aptas a concertar esses erros e impedir que a violência continue criando uma população de vítimas.

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Fontes:

The enduring effects of abuse and related adverse experiences in childhood

Identifying experiences of physical and psychological violence in childhood that jeopardize mental health in adulthood

Long-term physical and mental health consequences of childhood physical abuse: Results from a large population-based sample of men and women