A relação entre ingestão de remédios para depressão e um melhor controle da diabetes
Publicado por Scio Education

Por Lisa Rapaport

(Reuters Saúde) – As pessoas que têm tanto diabetes quanto depressão podem se beneficiar ao manter o controle dos níveis de glicose no sangue, se tomarem medicação para tratar os sintomas psíquicos, sugere um estudo norte-americano.

Os diabéticos estão mais suscetíveis a depressão e ao stress do que outros indivíduos; estes problemas psíquicos estão relacionados aos riscos acentuados de altos e perigosos níveis de glicose no sangue, assim como outras complicações, de acordo com a conclusão da pesquisa anterior.

Porém, quando diabéticos ficam realmente deprimidos, a ingestão de antidepressivos corresponde a probabilidades 95% maiores de que a glicose no sangue será melhor controlada, concluiu o estudo atual.

“Não sabemos o mecanismo pelo qual o uso de antidepressivos estão associados com níveis melhores de glicose no sangue naqueles pacientes com ambas condições, disse o autor e condutor do estudo Dr. Jay Brieler da Escola de Medicina da Universidade de Saint Louis.

É possível que quando a depressão melhora, as pessoas fiquem mais propensas a seguirem uma dieta saudável, exercitarem-se, checarem os níveis de glicose no sangue e manterem a ingestão de medicamentos para diabetes, disse Brieler por e-mail. Cientistas estão também investigando se existe conexão fisiológica entre as duas doenças, o que poderia significar variações nos hormônios do stress, condicionados ao uso de antidepressivos, e que podem afetar os níveis de glicose no sangue.

“Independente do medicamento, acho que nosso estudo reforça a evidência de que é importante diagnosticar e tratar, de forma precisa, a depressão em diabéticos”, disse Brieler.

Brieler e seus colegas reviram registros médicos eletrônicos de cerca de 1.400 diabéticos, incluindo testes de laboratório de glicose no sangue e dados de receitas sobre uso de antidepressivos, de 2008 a 2013.

Os pacientes tinham, na média, cerca de 62 anos. A maioria era obesa.

Todos eles tinham o tipo 2, ou a diabetes do adulto, que ocorre quando o corpo não consegue, de forma precisa, produzir a quantidade certa de insulina para converter açúcar em energia.

Muitos tinham outros problemas de saúde também, tais como pressão ou colesterol altos.

A maioria – 1.134 deles – não sofria de depressão, mas o estudo incluiu 225 pessoas sendo tratadas por depressão e 40 indivíduos que foram diagnosticados com depressão, mas não estavam tomando medicação.

Pesquisadores estimaram os níveis de glicose na corrente sanguínea no decorrer de vários meses, medindo o percentual de hemoglobina – a proteína nas células vermelhas que carrega o oxigênio – ou seja, revestida de açúcar.

Essa forma de hemoglobina revestida de açúcar é chamada de hemoglobina A1c, ou HbA1c. Com diabetes, manter os resultados de testes com HbA1c abaixo de 7% é geralmente considerado um nível de glicose bem controlado na corrente sanguínea.

De maneira geral, 44% dos diabéticos tinham, no estudo, glicose controlada na corrente sanguínea, ou abaixo de 7%, e os níveis de HbA1c eram, na média, 7.7%.

Cerca de 51% das pessoas com depressão sendo tratada tinham a glicose controlada na corrente sanguínea, comparado com apenas 35% daqueles com depressão sem tratamento.

Uma limitação do estudo é que os pesquisadores não puderam determinar se, tratar a depressão leva a um controle melhor da glicose no sangue ou se diminuir a glicose no sangue coíbe os sintomas da depressão, os autores reconhecem que na prática familiar, ambos os cenários são possíveis.

É também importante para os pacientes saber que certos antidepressivos e antipsicóticos podem ser associados com ganho de peso e controle baixo da glicose no sangue, observou o Dr. Robert Cohen, um pesquisador da Escola de Medicina da Universidade de Cincinatti e do Centro Médico VA de Cincinnati, que não se envolveu no estudo.

“Esta é a razão pela qual é tão importante ter aquelas medicações prescritas por um profissional de saúde que fará um acompanhamento de perto para detectar e determinar quando as mudanças são necessárias”, disse Cohen por e-mail.

Estes riscos, porém, não deveriam impedir diabéticos de procurarem tratamento para a depressão

“De acordo com a minha experiência, controlar a depressão de todas as formas pode ajudar as pessoas superarem a inércia que as impedem de fazerem os maiores esforços para lidar com seus quadros de diabetes”, Cohen complementou.

 

Artigo original disponível em: Family Practice, Oxford Journals.