Distúrbio dismórfico do corpo
Publicado por Scio Education

O distúrbio dismórfico do corpo (DDC) é um diagnóstico de saúde mental que está associado a uma preocupação não saudável e excessiva com a aparência física. Uma pessoa que sofre com a imagem do corpo distorcida tende a se concentrar em sua forma física ou no tamanho de seu corpo, já aqueles com problemas de distúrbio dismórfico do corpo acabam colocando um foco excessivo em uma determinada parte ou característica de seu próprio corpo. Pensamentos sobre imperfeições corporais acontecem o tempo todo e podem se tornar esmagadores, consumindo o pensamento destes pacientes, e tornando-se um obstáculo ao seu bem-estar  geral e ao seu funcionamento cotidiano.

Embora o foco e atenção excessivos possam estar em várias partes, traços ou características do corpo, as partes mais focadas são:

  • Cabelo;
  • Nariz ou outras partes do rosto;
  • Peito;
  • Genitais;
  • Musculatura ou tamanho de uma parte do corpo;
  • Simetria (do cabelo, rosto ou partes do corpo).

Muitos de nós gostaríamos de melhorar algumas partes do nosso corpo, mas nossos pensamentos sobre isso não são persistentes e intrusivos – uma diferença fundamental para a distinção entre preocupações gerais de imagem corporal e o diagnóstico clínico de DDC. Outro fator importante é que, com o DDC, você geralmente está preocupado com uma falha ou característica que é pouco perceptível ou mesmo inexistente. Características que outros vêem como uma ligeira imperfeição ou inconveniência (ou mesmo não ver) torna-se algo insuportável, consumindo o paciente a ponto de ameaçar sua qualidade de vida.

 

Quem está propenso a ter o distúrbio dismórfico corporal?

O DDC pode impactar uma em cada 50 pessoas no mundo, algo entre 5 a 7,5 milhões de indivíduos somente nos EUA.

O DDC parece afetar homens e mulheres igualmente – estima-se que 2,5% das mulheres e 2,2% dos homens são afetados por esse transtorno. Embora o DDC possa aparecer para pessoas de qualquer idade, muitos começam a mostrar sinais e comportamentos da doença em torno dos 12 ou 13 anos de idade. Não foi identificada uma causa única que desencadeie o DDC.

Esta desordem é influenciada por uma variedade de fatores, como interações sociais e interpessoais, predisposição genética ou algum evento desencadeante.

 

Sinais do Distúrbio Dismórfico Corporal

Caso esteja lidando com o DDC, você poderá, muitas vezes, ser consumido por pensamentos intrusivos e persistentes relacionados a uma condição do seu corpo, como uma marca, traço ou um defeito físico visível. Os pensamentos podem aparecer sem aviso, a qualquer momento, e não importa o quanto se esforce, terá dificuldade em parar ou mudar seus pensamentos sobre essa preocupação com a aparência física. Por causa da persistência desses pensamentos, é possível que você sinta uma queda significativa na sua qualidade de vida. A quantidade de sofrimento experimentado pode ser tão intensa que torna-se difícil se engajar em interações sociais, cumprir responsabilidades como a escola ou o trabalho e, em casos extremos, até mesmo ter dificuldade em sair de casa.

As pessoas com DDC frequentemente se envolvem em comportamentos repetitivos na tentativa de resolver essas preocupações físicas. Mesmo que você possa gastar de três a oito horas ou mais por dia nesses comportamentos, qualquer alívio, geralmente, é de curta duração. Se você acha que um ente querido pode estar lidando com DDC, alguns dos comportamentos que eles podem estar demonstrando incluem:

  • Cutucar ou abrir feridas;
  • Uso excessivo de maquiagem;
  • Esconder certas partes ou características do corpo com a roupa;
  • Se olhar no espelho com frequência;
  • Fazer exercícios demais;
  • Se mexer constantemente;
  • Usar acessórios como chapéus, cachecóis e luvas;
  • Buscar cirurgia plástica ou outros procedimentos estéticos;
  • Enfatizar partes do corpo ou traços físicos de modo excessivo;
  • Buscar aprovação alheia sobre determinada parte do seu corpo.

 

Outros transtornos mentais que podem ocorrer junto com o distúrbio dismórfico corporal

Pode haver sobreposição entre o DDC e outros distúrbios de saúde mental, particularmente os distúrbios de ansiedade, como ansiedade generalizada, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo e fobia social.

O DDC está categorizado entre os Distúrbios Obsessivos Compulsivos. Pesquisas mostram que mais de 60% dos pacientes com DDC apresentam transtorno de ansiedade e 38% são diagnosticados com fobia social. A preocupação com uma falha física evidente pode fazer com que essas pessoas se sintam isoladas e apreensivas em qualquer interação social, causando sentimentos de desesperança e depressão.

Embora a imagem de um corpo sem saúde seja frequentemente associada a distúrbios alimentares, é importante ressaltar que a dismorfia corporal não está necessariamente relacionada a obesidade ou perda de peso. Para muitas pessoas com DDC, o foco está em uma parte do corpo, como o nariz, o cabelo ou as cicatrizes – coisas que os comportamentos alimentares desordenados não mudariam ou influenciariam. Quando o foco obsessivo está relacionado especificamente ao tamanho de uma parte do corpo, como as coxas, o comportamento compulsivo acontece no sentido de resolver essa falha visível. Estima-se que cerca de 12% das pessoas com DDC, também se encaixam nos critérios para transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.

 

Sintomas clínicos do ditúrbio dismórfico corporal

Para evitar parecer tolos ou por temer não serem levados a sério pelo médico, as pessoas com DDC podem sofrer por um tempo antes de procurarem ajuda. Mesmo assim, eles geralmente revelam suas preocupações a um profissional como um dermatologista, cirurgião plástico ou dentista, em vez de um psiquiatra ou outro profissional de saúde mental. As pessoas com DDC muitas vezes temem o julgamento de outras pessoas, mesmo que seu nível de angústia seja tão alto que afete severamente sua qualidade de vida e relacionamentos.

Para ser clinicamente diagnosticado com DDC, os seguintes critérios devem ser atendidos:

  1. Preocupação com a aparência. A pessoa não está apenas preocupada com sua aparência, é importante notar que o foco de sua atenção está em uma ligeira imperfeição, algo pouco observável ou notado por outros ou em algo inexistente. Para ser considerada “preocupada” com a falha, a pessoa precisa estar focando seus pensamentos obsessivos sobre suas “imperfeições” durante várias horas por dia.
  2. A pessoa precisa se envolver num comportamento repetitivo em um esforço para “consertar” a falha. Os comportamentos repetitivos são demonstrados na tentativa de esconder, consertar ou responder ao ponto corporal que é foco do pensamento obsessivo. Por exemplo, alguém pode olhar repetidamente no espelho, pegar na pele, trocar a roupa, reaplicar a maquiagem, pedir excessivamente a opinião alheia sobre a aparência, etc.
  3. Os pensamentos obsessivos e os comportamentos repetitivos devem ser clinicamente significativos. Em outras palavras, a angústia que a pessoa experimenta deve ser grande a ponto de sua qualidade de vida ser significativamente prejudicada. A vida social da pessoa, a ocupação (escola ou trabalho) e outras áreas importantes de sua vida devem ser impactadas drasticamente como resultado desses pensamentos e comportamentos.

O distúrbio dismórfico do corpo pode ser facilmente confundido com outro transtorno de saúde mental, por isso é importante consultar um médico especializado para  obter uma avaliação diagnóstica, de modo a evitar diagnosticar erroneamente o DDC como um dos seguintes distúrbios:

  • Distúrbio de ansiedade social;
  • Transtorno depressivo maior;
  • Transtorno obsessivo-compulsivo;
  • Transtorno de escoriação (cutucar);
  • Transtorno de tricotilomania (puxar os cabelos);
  • Agorafobia (fobia social);
  • Transtorno alimentar;
  • Transtorno de ansiedade generalizada.

 

Quais tratamentos estão disponíveis para o distúrbio dismórfico corporal?

Se você ou um ente querido está lidando com DDC, pode ser que esteja relutante em iniciar uma terapia ou um aconselhamento. É muito comum – mesmo naqueles sem DDC – acreditar que o tratamento psicológico não é uma solução adequada para seus problemas. Na verdade, é provável que você já tenha procurado ajuda de outras maneiras, como maquiagem, consultores de vestuário e cabelos, cirurgiões plásticos, estetistas, dermatologistas e dentistas (dependendo do corpo em questão). Pessoas com DDC querem que seu “problema” físico seja resolvido. Eles querem que a falha evidenciada seja corrigida, transformada ou removida. Pode parecer assustador, mas o tratamento psicológico pode ser muito benéfico, abordando quaisquer pensamentos e sentimentos em torno dessas preocupações físicas.

Uma abordagem que se mostrou efetiva para tratar o DDC é a terapia cognitivo-comportamental (TCC).  A TCC é um tratamento de primeira linha para BDD. Ela envolve a mudança dos  pensamentos e crenças inadaptados presentes na desordem. A TCC também pode envolver técnicas de exposição que visam diminuir os comportamentos e pensamentos repetitivos em torno das preocupações corporais. Além disso, o uso de medicamentos, especificamente os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), mostraram serem efetivo na redução de alguns dos sintomas do DDC. Estes medicamentos são frequentemente utilizados de forma mais eficaz em combinação com a TCC (Porter, 2017). É importante que aqueles com Distúrbio Dismórfico Corporal permitam a si mesmos tempo suficiente para que a psicoterapia seja efetiva.

 

Objetivos do tratamento

A segurança física é fundamental no tratamento do DDC. No momento em que um indivíduo iniciou a terapia, é provável que ele já tenha mostrado alguns comportamentos físicos inadequados, como, por exemplo, a produção de feridas na pele ou arrancar os cabelos. Esses comportamentos podem deixar você e seus entes queridos sem esperança de que a situação possa mudar. É importante que este comportamento seja visto não só como prejudicial para o bem-estar, mas também ineficaz na realização do objetivo de “consertar” uma falha corporal evidenciada.

 

Um conselho da Verywell

Comparações são um grande desafio para muitos de nós, mais ainda se você estiver lidando com o DDC. Por causa das inseguranças em torno de características físicas e uma tendência a julgar a nós mesmos de modo duro, estar com outras pessoas pode ser algo difícil e intimidante. Por exemplo, você pode ser crítico sobre a forma do seu nariz e acabar comparando seu nariz com os das outras pessoas na sala, criticando-se e julgando-se ainda mais. A TCC pode ajudar a interromper e desafiar esses padrões de pensamento impróprios.

Se você ou um ente querido estiverem lidando com distúrbios dismórficos do corpo, a aceitação de si mesmo é primordial para qualquer tratamento. Depois de passar tanto tempo focado em falhas pessoais, a ideia de autoaceitação pode ser estranha e, às vezes, parecer até mesmo impossível, mas, com a ajuda do tratamento, pode ser possível desafiar pensamentos debilitantes e comportamentos não saudáveis, melhorar sua conversa consigo mesmo e atingir uma maior aceitação e autocompaixão.

Artigo original disponível em Verywell.