Cientistas descobrem que os genes mudam a forma como as pessoas respondem à droga bipolar lítio
Publicado por Scio Education

Relatado por Imogen Brennan, 22 de janeiro de 2016

 

Tim Palmer: Um grupo de cientistas internacionais fez uma descoberta que pode potencialmente mudar a forma como os pacientes com transtorno de humor são tratados, dependendo de sua constituição genética.

A pesquisa, que teve coautoria de cientistas australianos, debruçou-se especificamente sobre o lítio, droga utilizada há bastante tempo no tratamento do transtorno bipolar e depressão.

Eles descobriram indicadores genéticos que podem determinar quais pacientes responderão à droga, conforme Imogen Brennan relata.

Imogen Brennan: A bipolaridade é um transtorno de humor que, em casos extremos, apresenta uma depressão maníaca, surtos intensos ou experiências psicóticas. Pode levar as pessoas à comportamentos suicidas.

A organização de saúde mental SANE Austrália diz que uma em cada cinquenta pessoas desenvolverá a bipolaridade em algum momento de sua vida.

O diretor de psiquiatria da Universidade New South Wales é o cientista professor Philip Mitchell.

Philip Mitchell: O transtorno bipolar é um quadro muito difícil de tratar. Quando você consegue o tratamento correto, faz uma diferença brutal na vida das pessoas. O tratamento mais eficaz que temos é o lítio e é antigo, descoberto, na verdade, por um australiano há cinquenta anos.

Imogen Brennan: O problema é que mesmo sendo o tratamento para bipolaridade mais eficaz disponível, ele funciona somente para cerca de um terço das pessoas que são medicadas.

Philip Mitchell: Um terço responde moderadamente, e o outro tem resposta zero. É um quadro que é importante de ser tratato, agudo e disruptivo, é também recorrente ao longo do tempo, de modo que as pessoas tem casos repetidos de picos maníacos e baixas depressivas que realmente prejudica a vida das pessoas.

Imogen Brennan: Professor Mitchell foi um dos coautores de um estudo publicado no jornal Lancet recentemente. Foi uma colaboração entre pesquisadores de todo o mundo do Consórcio Internacional de Genética de Lítio (ConLiGen). Eles queriam entender se a constituição genética de um paciente determina como eles respondem ao lítio.

Philip Mitchell: Tem surgido evidências crescentes que a resposta ao lítio parece funcionar em famílias, o que tem sugerido às pessoas que há provavelmente fatores genéticos determinantes naqueles que se beneficiam do lítio. Observamos um grande contingente ao redor do mundo. Foi um empreendimento gigantesco. Visitamos 22 países, originalmente cerca de 3.000 pacientes.

Imogen Brennan: O professor da Universidade New South Wales, Peter Schofield, faz parte do Neurosciences Research Australia (NeuRA). Ele também foi coautor do relatório.

Peter Schofield: A conclusão do estudo foi que identificamos dois genes que estão envolvidos na regulação da expressão gênica mais ampla, particularmente no cérebro, que indicam uma resposta positiva ao lítio. E assim, isto é realmente o tipo de resultado emocionante.

Imogen Brennan: Os cientistas esperam que médicos potenciais possam um dia estar aptos a adaptar o tratamento de transtornos para a constituição genética de um indivíduo.

Philip Mitchell: O significado da descoberta é realmente dramático em dois níveis. Primeiro é que é um avanço científico muito importante. Mas, em termos da prática clínica do mundo real, se esse achado puder ser reproduzido e encontrado em outros grupos, então isso realmente aponta para o uso de marcadores genéticos como este na prática clínica revolucionariam o nosso tratamento do transtorno bipolar.

Imogen Brennan: O estudo até esse momento levou seis anos e recebeu pouco investimento. O professor da NeuRA, Peter Schofield, diz que o próximo nível, com a evolução desta descoberta, pode demorar algum tempo.

 

Peter Schofield: Certamente, não é uma coisa para amanhã. Eu acho que, como todos esses estudos, precisamos ir e reproduzir e, particularmente, fazê-lo prospectivamente. E tendo este emocionante resultado de encontrar alguns genes que estão associados com a resposta positiva, estamos agora nesta posição fantástica de sermos capazes de acompanhar isso até mostrar que isso realmente pode ser usado de forma produtiva. Isso significa, infelizmente, mais estudos. Mas, o importante é que desde os mais de cinquenta, quase sessenta anos desde que o lítio foi descoberto pela primeira vez, estamos realmente fazendo alguns progressos em como poderemos ser capazes de usá-lo ainda mais eficazmente e eficientemente. E isso é muito emocionante.

Tim Palmer: Professor Peter Schofield falando para Imogen Brennan.

 

 

Artigo original disponível em: http://www.abc.net.au/pm/content/2015/s4393045.htm