Falar com terapeuta pode literalmente reprogramar seu cérebro
Publicado por Scio Education

 

Estas mudanças na conectividade do cérebro podem ser responsáveis pela recuperação do paciente de doenças mentais a longo prazo.

Se você pode mudar o jeito que você pensa, você pode mudar seu cérebro.

Esta é a conclusão de um novo estudo, que descobriu que desafiar padrões de pensamento não saudáveis com ajuda de um terapeuta pode levar a mudanças mensuráveis na atividade do cérebro.

Neste estudo, psicólogos do King’s College London mostraram que terapia cognitivo comportamental fortalece conexões saudáveis do cérebro em pacientes com psicose. Esta conectividade melhorada foi associada com reduções a longo prazo nos sintomas psicóticos e recuperação oito anos mais tarde, de acordo com os achados, que foram publicados no jornal Translational Psychiatry.

Durante seis meses de terapia, percebemos que as coleções entre algumas áreas-chave do cérebro se tornam mais fortes,” o Dr. Liam Mason, psicólogo clínico no King’s College  e autor principal do estudo, escreveu por email ao The Huffington Post. “O que nos deixou realmente excitados aqui foi que essas conexões mais fortes levaram a melhora a longo prazo no sintoma das pessoas e na recuperação geral ao longo dos oito anos que nós acompanhamos esses pacientes.”

 

O que é a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)?

A terapia cognitivo comportamental, ou TCC, é uma técnica de psicoterapia que foi desenvolvida nos anos 70 e praticada comumente nos dias de hoje. A TCC tem como alvo a depressão, ansiedade e outros transtornos mentais, ao ajudar os pacientes a identificar pensamentos e crenças disfuncionais e substituí-los por outros saudáveis.

No caso da esquizofrenia e da psicose, a TCC pode ajudar os pacientes a redimensionar pensamentos e percepções incomuns ou pensamentos paranoides –  por exemplo, a crença de que outros querem prejudicá-los.

 

“A TCC ajuda as pessoas a aprender novas maneiras de pensar e responder às suas dificuldades”, disse o pesquisador. ”O que nós pensamos que torna isso efetivo é que estas pessoas podem utilizar estas novas ferramentas que eles aprenderam e praticaram na terapia, e continuar a usá-las muito tempo depois da terapia terminar”.

 

Rescrevendo crenças, reprogramando o cérebro

Ao reescrever os seus padrões de pensamento profundamente enraizados, parece que os pacientes também literalmente reprogramam seus cérebros.

Em um estudo anterior, Mason e sua equipe mostraram que pacientes com psicose, que recebem TCC, têm conexões mais forte entre regiões do cérebro envolvidas no processamento adequado de ameaças sociais.  Estes novos achados revelam que essas mudanças são duradouras, e podem ser críticas na recuperação a longo prazo.

No estudo original, os pacientes com psicose passaram por mapeamento de imagem cerebral antes e depois dos três meses de TCC. Os cérebros destes pacientes foram escaneados enquanto eles olhavam para imagens de expressões faciais com diferentes emoções. Depois de se submeterem à terapia, os pacientes mostraram um aumento na atividade cerebral bem definido.  Especificamente, exame de imagem mostrou o aumento das conexões entre a amígdala, região do cérebro envolvida no processamento do medo e de ameaças, e no córtex pré-frontal, que é responsável pela  avaliação e pelo pensamento racional –  sugerindo que os pacientes tiveram uma melhora da habilidade de perceber de maneira adequada as ameaças sociais.

 

“Nós acreditamos que esta mudança pode ser importante ao permitir que as pessoas conscientemente repensem de maneira imediata as reações emocionais,” disse Mason.

 

Nesta nova pesquisa, Mason e seus colegas acompanharam 15 dos participantes do estudo original, observando a sua saúde ao longo do curso de oito anos de prontuários médicos. Ao final dos oito anos, os participantes também responderam perguntas sobre sua recuperação de modo geral e bem-estar.

Os pesquisadores encontraram que o aumento da conectividade cerebral entre a amígdala e o córtex pré-frontal estava com associada com uma recuperação a longo prazo da psicose. Este incrível achado marca a primeira vez em que cientistas foram capazes de demonstrar que mudanças no cérebro resultantes da psicoterapia podem ser responsáveis pela recuperação a longo prazo de doenças mentais.

 

Superando o “ viés do cérebro” da psiquiatria

Existe uma grande chance de que mudanças no cérebro parecidas como esta também aconteçam em pacientes em terapia sendo tratados para ansiedade e depressão, diz Mason.

“Existe uma pesquisa mostrando que algumas destas mesmas conexões podem ser reforçadas pela terapia para transtornos ansiosos, “ ele explica.

Esses achados desafiam o ”viés do cérebro” na psiquiatria, um foco institucional das diferenças físicas do cérebro sobre os fatores psicológicos das doenças mentais.  Graças a este viés comum, muitos psiquiatras estão propensos a recomendar medicação aos seus pacientes ao invés de tratamentos psicológicos como psicoterapia.

 

“A terapia psicológica pode levar a mudanças nos mecanismos do cérebro, “ diz Mason. “Isso é especialmente importante para condições como psicose que têm, tradicionalmente, sido vistas como doenças do cérebro que precisam unicamente de medicação e até mesmo cirurgia”.

 

“Esta pesquisa desafia a noção de que a existência de diferenças físicas no cérebro em casos de doenças mentais pode de alguma forma fazer fatores como tratamentos psicológicos serem menos importantes,” Mason declara.

 

Artigo Original: The Huffington Post