A saúde mental das mulheres durante a pandemia
Publicado por Scio Education

Há cerca de um ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a situação mundial de pandemia em razão da primeira onda da Covid-19. De lá pra cá, houve intensas transformações no modo de sociabilidade que repercutiu em diferentes aspectos da vida humana, sobretudo psicológico.  

Nesse cenário, o impacto diante do isolamento social foi duramente sentido pelas mulheres. Segundo pesquisa americana realizada pela ONG Kaiser Family Foundation, 53% das mulheres declararam constante apreensão e estresse durante a pandemia, em contraposição ao índice de 37% dos homens. Isso se consolida sobretudo por já possuírem risco significativo de desenvolverem sintomas de transtornos de humor e ansiedade, tanto por influência hormonal, nos períodos de tensão pré-menstrual e menopausa, como pela sobrecarga emocional.  

  • Preocupação e atividades em excesso   

        
        Um dos fatores associados a essa sobrecarga emocional se refere ao acúmulo de papéis desempenhados pela mulher no âmbito social e familiar.  

No período de quarentena, esses fatores se sobrepõem, uma vez que as atividades de trabalho home office inevitavelmente entram em confronto com a atenção aos cuidados dos filhos, sobretudo em relação ao acompanhamento das lições escolares desenvolvidas pelo ensino remoto.  

Além disso, as atividades domésticas também se intensificam pelo convívio de todos os familiares, a falta de divisão de tarefas e pela inviabilidade do auxílio de babás, empregadas ou mesmo de parentes, em razão das recomendações de contato reduzido, principalmente quando existe a presença de pessoas do grupo de risco dentro de casa.   

Outro dado preocupante relacionado à maior permanência domiciliar diz respeito à incidência de casos de violência doméstica contra as mulheres, que cresceu 18%, segundo os dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH). Ao consolidar esse panorama com outros traumas e eventuais abusos psicológicos, a saúde mental da mulher se torna cada vez mais vulnerável e propensa a sofrer sérios prejuízos.  
 

  • Desemprego e Exposição das Profissionais de Saúde 
     

          Por outro lado, existem mulheres que tiveram o salário reduzido ou mesmo perderam seus empregos durante a pandemia, cuja taxa bate recorde de 14,2%, segundo IBGE. Esse fator atinge diretamente os planos de subsistência, movimentando ainda mais a sensação de ansiedade e nível elevado de estresse, o que pode culminar no desenvolvimento de transtornos psíquicos.  

         Para as mulheres que precisam prestar serviço fora, a insegurança de contágio e o medo se tornam parte do cotidiano, principalmente àquelas que trabalham como médicas e enfermeiras na linha de frente ao combate do coronavírus. Diante da vivência com a lotação de leitos de UTI, falecimentos e muitos novos casos, as profissionais se tornam mais debilitadas psicologicamente e ainda se sentem mais solitárias, em razão da necessidade de afastamento dos familiares e também do comportamento discriminatório de pessoas que possuem medo de serem contaminadas. Essa sobrecarga emocional é preocupante pois pode influenciar diretamente na conduta médica de atendimento, seja pela falta de atenção ou na tomada de decisões. 
 

  • Preocupações na Grávidez e no Pós-Parto 

Se durante a gestação já existe uma preocupação com o desenvolvimento do feto, na pandemia as gestantes tiveram um abalo emocional significativo se comparado ao cenário de 2019, conforme aponta pesquisa canadense. Segundo especialistas, os transtornos mentais já são comuns em grávidas e puérperas, atingindo cerca de 10% e 25% das mulheres.  

Durante o período do coronavírus, essa incidência cresce devido às apreensões constantes de exposição durante o acompanhamento médico e, principalmente, no momento do parto. A médica Cristiane Ribeiro, especialista e preceptora de psiquiatria do ambulatório de depressão pós-parto do Hospital das Clínicas da UFMG, aponta a necessidade de atenção ao estado mental da mulher no momento posterior ao nascimento do bebê, uma vez que o estresse gerado durante a gestação pode se prolongar através do desenvolvimento de sintomas característicos à depressão pós-parto, como fadiga, falta de autoestima, descontentamento e apatia em relação ao bebê.  

  • Cuidado redobrado com a saúde  

       Como visto, a multiplicidade de papéis sociais e familiares do sexo feminino se intensificou substancialmente desde o início da quarentena.  A falta de tempo e as demandas de atenção aos familiares ou pacientes implica na diminuição do autocuidado, potencializando ainda mais os sentimentos de medo, impotência e tristeza, dos quais poderão surgir transtornos depressivos, crises de ansiedade e, em alguns casos, distúrbios alimentares e até mesmo pensamentos suicidas.   

           Nesse contexto atual, as práticas ideias para o cuidado com a saúde mental e a prevenção desses sintomas estão relacionadas ao alívio dos sentimentos estressores através da psicoterapia ou acompanhamento psiquiátrico, caso seja necessária a utilização de medicamentos no tratamento.  
          Além da ajuda profissional, manter a interação com amigos e parentes distantes, mesmo que de modo virtual, contribui para a sensação de acolhimento, além de servir como distração às preocupações do cotidiano. A prática de atividades físicas e uma alimentação saudável também são fatores positivos para melhorar a disposição e a prevalência da autoestima, com benefícios para saúde física e mental.