Quando abrimos a discussão sobre o tema violência, a primeira coisa que precisamos abordar são as suas múltiplas definições.
Tratando-se da violência psicológica, há décadas que existe uma preocupação genuína em conceituá-la corretamente, pois, diferente das outras naturezas de violência – com formas mais claras de detecção e intervenção – a violência psicológica é pouco diagnosticada.
Nos anos 70, a “síndrome da criança espancada” foi um passo muito importante para mostrar ao mundo as gravidades dos abusos na infância e seus impactos na saúde de crianças, adolescentes e adultos vítimas de violência, principalmente durante essa fase do desenvolvimento.
A conclusão dessa corrente de pesquisas foi que, mesmo pouco estudada na época, a violência psicológica já poderia causar muitos mais danos do que as outras formas de maus-tratos. Para aumentar a gravidade, soma-se o fato de que essa é uma forma muito mais difícil de ser identificada e, assim, de sofrer interferência adequada.
Efeitos da Violência Psicológica na Infância
Especialistas no psicológico infantil demonstram que a violência psicológica acarreta ataques severos ao ego da criança, ajudando a distorcer sua visão sobre o mundo.
Segundo os estudos, alguns efeitos de uma criança conviver com violência psicológica são:
- incapacidade de aprender;
- mau rendimento escolar;
- incapacidade de construir e manter satisfatória relação interpessoal;
- ser vítima de violência na comunidade e na escola;
- transgredir normas e vivenciar violência no namoro;
- comportamento e sentimentos inapropriados diante de circunstâncias normais;
- humor infeliz ou depressivo;
- problemas emocionais (ansiedade, depressão, tentativa de suicídio e transtorno de estresse pós-traumático);
- tendência a desenvolver sintomas psicossomáticos.
Entre os fatores de risco mais comuns para que ocorram casos de violência psicológica infantil (além de pobreza, pai ou mãe não biológicos e gravidez e partos complicados), estão os pais separados ou divorciados.
Como o divórcio afeta a saúde mental da criança?
A separação do casal, na maioria das vezes, é descrita como um evento estressante para as famílias. Todas as mudanças e ajustamentos na vida dos pais e das crianças tendem a aumentar a probabilidade do surgimento de algum mal-estar psicológico ou efeitos ao longo prazo.
Considerando o lado da criança, estudos apontam a presença de 5 fatores associados ao pior ajustamento infantil à separação ou divórcio dos pais.
- Dificuldades
da criança
Neste campo, o temperamento e a idade da criança na época da separação têm grande influência nos efeitos que essa transição causará e como ela lidará com os ajustamentos.
- Diminuição
da segurança financeira
Logo após a separação, é comum que ambas as partes do casal se encontrem em condições financeiras instáveis, ajudando a reforçar um dos fatores de risco para o surgimento da violência psicológica.
- Quadros
psicopatológicos nos pais
Histórico de doenças mentais, com ênfase para transtornos depressivos.
- Coparentalidade
conflituosa
Quando os pais separados apresentam grandes divergências na maneira do estilo parental, confrontando a criança com mensagens educativas inconsistentes, o estresse e os problemas de internalização aumentam.
- Intensidade,
tonalidade e frequência do conflito entre o ex-casal
Considerado como o maior fator de risco no ajustamento da criança ao divórcio, o conflito interparental – manifestado pela hostilidade, agressividade, desconfiança e dificuldades de cooperação nos cuidados dos filhos – criam um ambiente familiar estressante e inseguro para a criança.
5 comportamentos parentais tóxicos
Por ser uma fase de transição, cheia de mudanças e ajustamentos, o divórcio muitas vezes é o momento em que alguns tipos de comportamentos parentais surgem em resposta à insegurança e frustração causadas pela dissolução conjugal. Uma pesquisa enumerou 5 desses comportamentos que podem ser muito tóxicos e podem expor a criança à violência psicológica.
rejeitar
recusar-se a reconhecer a importância da criança e a legitimidade de suas necessidades
isolar
separar a criança de experiências sociais normais impedindo-a de fazer amizades, e fazendo com que a criança acredite estar sozinha no mundo
aterrorizar
a criança ser atacada verbalmente, criando um clima de medo e terror, fazendo-a acreditar que o mundo é hostil
ignorar
privar a criança de estimulação, reprimindo o desenvolvimento emocional e intelectual
corromper
quando o adulto conduz negativamente a socialização da criança, estimula e reforça o seu engajamento em atos antissociais.
Conclusão
A violência psicológica é um fenômeno universal que não tem limites culturais, sociais, ideológicos ou geográficos, mas que ainda está envolto por um pacto de silêncio, principal responsável pelo ainda tímido diagnóstico e pelo reduzido número de notificações.
Só quando essa forma de agressão sair da invisibilidade que poderemos colaborar para o aumento da sua prevenção e da proteção desta natureza de violência, principalmente a crianças e adolescentes.