Obesidade: Cirurgia bariátrica e saúde mental
Publicado por Scio Education

O acúmulo excessivo de gordura no nosso organismo é responsável por uma síndrome conhecida como: obesidade. Essa doença crônica, se caracteriza pela gordura corporal acima de 20% da considerada ideal para um indivíduo ao se calcular seu peso e estatura.

Sempre que nos alimentamos, há um ganho e um gasto energético. Quando o ganho de energia é maior do que seu gasto, nosso organismo passa a acumular essas calorias em forma de células de gordura. No organismo de indivíduos obesos, a formação e a destruição dessas células gordurosas, encontra-se em desequilíbrio. E isso tem um impacto negativo tanto na saúde física quanto na saúde mental.

Atualmente, a obesidade é considerada uma doença epidêmica e, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), há mais de 400 milhões de obesos ao redor do mundo. No Brasil, estima-se que existam mais de 20 milhões de pessoas consideradas obesas, dentro os quais, 12,5% são homens adultos e 16,9% são mulheres adultas.

 Esses números são alarmantes, especialmente porque a obesidade é um fator de risco para uma série de doenças, tais como: acidente vascular, alguns tipos de câncer, alteração no ciclo menstrual, apneia do sono, artrose, colesterol, depressão, diabetes, doenças cardiovasculares, excesso de cansaço, hipertensão, infarto do miocárdio, problemas de locomoção, varizes e redução da expectativa de vida.

O tratamento dessa doença requer uma drástica mudança no estilo de vida do paciente diagnosticado com obesidade. É fundamental a adoção de uma dieta mais equilibrada, saudável e menos calórica, aliada à prática regular de atividades físicas com o acompanhamento de um profissional. Em alguns casos, pode ser recomendado o uso de medicamentos inibidores de apetite e, em casos mais sérios, a cirurgia bariátrica também pode ser recomendada. Para todos os tipos de tratamento é fundamental o acompanhamento médico.

Cirurgia Bariátrica e Saúde Mental:

A cirurgia bariátrica é um procedimento médico e cirúrgico, recomendado para pacientes classificados com obesidade de grau 3, também conhecida como obesidade mórbida – o nível mais grave do excesso de peso. Essa intervenção se dá por meio de técnicas de redução do estômago de pacientes obesos.

No Brasil, existem 4 tipos de bariátrica regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina: Banda Gástrica Ajustável, Derivação Bileopancreática (DBP), Gastrectomia Vertical (GV) e Gastroplastia em Y de Roux (GYR).

  • Banda Gástrica Ajustável: pouco invasiva e reversível, essa técnica permite ajustes individualizados e também reduz a taxa de mortalidade. Correspondendo a cerca de 5% dos procedimentos de redução do estômago, essa técnica consiste na implantação de um dispositivo de silicone no início do órgão. Esse dispositivo permite que água destilada seja injetada para apertar ou esvaziar o estômago.
  • Derivação Bileopancreática: técnica que corresponde a 5% dos procedimentos bariátricos, a DBP possibilita uma melhor ingestão de alimentos, promove a perda de peso e reduz a intolerância alimentar. Esse tipo de cirurgia associa a GV (com a retirada de 85% do estômago) com desvio intestinal. Assim, essa técnica faz com que os sucos digestivos (bile e suco pancreático) e o alimento ingerido percorram caminhos diferentes, encontrando-se apenas a 100 cm do final do intestino delgado. Isso inibe a absorção de nutrientes e de calorias.
  • Gastrectomia Vertical: esse procedimento corresponde a 15% das bariátricas realizadas no país. Na GV, há uma remoção de 70 a 85% do estômago e fazendo com que o órgão se pareça com um tubo bem estreito. Assim, a grelina – hormônio associado à absorção de ferro e à fome – é reduzida, mas sem comprometer a absorção das vitaminas do complexo B, do cálcio e do zinco.
  • Gastroplastia em Y de Roux: é o tipo de cirurgia bariátrica mais comum, correspondendo a 75% dos procedimentos. Essa técnica reduz para 10% a capacidade do estômago do paciente obeso, assim restringe-se a ingestão de comida e os alimentos são desviados do duodeno (primeira parte do intestino delgado) até o jejuno (parte intermediária do intestino delgado). Assim, a grelina também é reduzida e, por consequência, o apetite do paciente também diminui.

Dos procedimentos mais simples ao mais complicado, a cirurgia bariátrica é um método bem invasivo e que impacta bastante na rotina dos pacientes, inclusive na saúde mental de quem passa pelo processo.

Portanto, do pré ao pós-operatório é fundamental o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Na fase pré-operatória, um médico psiquiatra fica responsável por fazer uma avalição clínica do quadro emocional do paciente, levando em consideração o histórico da doença bem como os impactos que ela teve na sua saúde física e psíquica.

Um fator muito importante para o psiquiatra ou psicólogo que acompanha um paciente que passará por uma bariátrica, é avaliar a carga que o preconceito social em relação à obesidade afetou ou afeta o paciente. A gordofobia (preconceito contra pessoas gordas) e a aversão que nossa sociedade reflete sobre a questão da obesidade pode trazer problemas sérios de saúde mental para pessoas obesas. Desde questões sobre a autoimagem até o isolamento social, e a depressão.  

Já na fase após a cirurgia, o acompanhamento emocional deve se atentar às diversas mudanças pelas quais o paciente passou. Sentimentos como angústia, tristeza e vazio podem passar a ser percebidos em pacientes bariátricos e, se não houver um cuidado de saúde mental muito próximo, com o passar do tempo, esse paciente pode se agredir dando beliscões no próprio corpo e também desenvolver depressão ou algum tipo de compulsão alimentar.

Por isso, é tão importante que indivíduos obesos tenham uma atenção multidisciplinar tanto no cuidado pré-cirúrgico quanto no cuidado pós-cirúrgico. Essa atenção permite que a equipe médica avalie a estrutura mental do paciente bariátrico e possa avaliar os desafios, prognósticos e possíveis complicações pós-operatórias. Afinal, o viés psicoterapêutico profundo é fundamental para que esses pacientes obesos possam ter mais qualidade em sua saúde mental para lidar com essa situação.

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Referências:

  1. Obesidade: https://www.fleury.com.br/manual-de-doencas/obesidade
  2. Obesidade: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/obesidade
  3. Cirurgia bariátrica: tipos, quem pode fazer, riscos e preços: https://www.minhavida.com.br/saude/tudo-sobre/15740-cirurgia-bariatrica
  4. Cirurgia bariátrica e seus aspectos psiquiátricos: https://www.polbr.med.br/ano16/prat0116.php
  5. Obesidade grau 3: Aspectos psicológicos: https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/obesidade-grau-3-aspectos-psicologicos-entrevista/
  6. Características psicológicas de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082009000100013